…e só deixa tocar música cássica no casamento na igreja.
A primeira vez que alguém me falou sobre “padre chato” eu entrei em pânico. O casal tinha escolhido um repertório todo moderninho para o quarteto de cordas e a notícia veio enquanto os músicos se ajeitavam para o início do casamento em 30 min.
Respirei e fui conversar com o padre. Ele queria aprovar o repertório.
Levei a lista das músicas, conversei, combinei a Ave Maria… e por pura sorte deu tudo certo.
Pura sorte mesmo. Eu estava completamente despreparada e não fazia ideia que isso podia acontecer.
Depois disso cultivo o hábito de dar uma palavrinha com todos os sacerdotes com os quais trabalho e, quando tem, as cerimonialistas locais dos templos onde tocamos. E aprendi MUITO com isso:
“Minha filha, tudo é uma questão de bom senso. Teve uma época que era moda casar com a música do Titanic. Eu barrei sempre. Como é que alguém vai começar um casamento com a imagem de um navio afundando?
Outro dia uma noiva me veio com uma gravação que a letra falava sobre a noiva, tão linda, que entrava na igreja e tals. Acontece que quando a gente ouvia a letra toda, quem estava cantando era o amante da noiva vendo ela entrar e casar com o noivo. Com é que eu vou deixar isso?”
Palavras da salvação!
Ouvi isso de um sacerdote em um templo tradicional de Porto Alegre. Essa conversa me ajudou a entender que o segredo para solucionar o “padre chato” é simplesmente o respeito.
Ás vezes, no afã de montar uma cerimônia memorável e realizar o sonho dos noivos, algumas pessoas não percebem que quando decidimos casar em um templo, estamos decidindo casar de acordo com uma série de dogmas e regras de comportamento. Não pode fazer cerimônia com músicas com letras lascivas, até chulas, que vão contra os ensinamentos da fé do templo escolhido, assim como não vamos parar o ensaio da escola de samba pra colocar um pregador com discurso preconceituoso no meio da quadra pra “ensinar” o que é certo. Não faz sentido. Não é respeitoso.
Como se resolve isso? Simples. Quando os noivos escolhem casar em templo, e a fama do sacerdote é de “chato” a primeira coisa que fazemos é ajudar na seleção de músicas que falem sempre de um amor especial, de histórias românticas, com melodias bonitas. A segunda coisa é selecionar, quando a igreja é católica, uma Ave-Maria para o momento da bênção das alianças. A terceira coisa é levar um repertório “coringa” junto na pasta de partituras para o caso de alguma das músicas ser barrada na hora de começar a cerimônia.
Mas então não tem sacerdote “chato” inviável? Tem sim. São poucos mas existem.
Daí temos que ter paciência, entender que estamos ocupando o espaço de trabalho dele e precisamos conversar com ele bem antes da cerimônia, aprovar o repertório e às vezes a formação.